SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Uma das coisas que me deixam infeliz é essa história de monstro sagrado”, disse Clarice Lispector num registro tardio colhido pela amiga Olga Borelli. “A verdade é que algumas pessoas criaram um mito em torno de mim, o que me atrapalha muito, afasta as pessoas e eu fico sozinha.”
À beira de seu centenário, que se completa no dia 10 de dezembro, o mito de Clarice talvez esteja maior do que nunca. As pessoas, por outro lado, não se afastaram nada dela.
Pelo contrário. Desde sua morte, se aprofundou a compreensão sobre uma mulher enclausurada por toda a carreira numa fama de hermética e estrangeira. E a repercussão de sua obra se ampliou, sem nunca se exaurir.
“Quando escritores morrem, é comum que caiam num limbo, até de séculos. Clarice não passou por esse limbo. Ela foi direto ao céu”, afirma Nélida Piñon, amiga que a acompanhou até seus últimos respiros, em 9 de dezembro de 1977. “Quando Clarice morreu, ela vinha numa rápida ascensão. Mas em vida ela era prestigiada, e não consagra